quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Sobre a História da Psicologia (Resumo comentado do texto: “Por que existem tantas psicologias?” De Arthur Arruda Leal Ferreira)



     A pluralidade do campo psicológico se apresenta como um dos principais aspectos para compreender a formação do mesmo, portanto, há de se entender como se deu essa evolução das correntes longitudinalmente e quais são suas consequências. A na Física opera a discordância entre diversas teorias, como, por exemplo, a dualidade partícula-onda que tenta entender a natureza da luz. Porém, “o que está em questão na psicologia é a sua própria definição, a sua linguagem, o que a caracteriza como ciência, o que ela deve estudar (seus objetos), como estudá-los (seus métodos), e a partir de que questões (sua problemática)”. Dessa maneira apresentam-se varias escolas com seus próprios sistemas para discutir questões relativas à psique análogas umas às outras, constituindo diferentes projetos científicos (Estruturalismo, Funcionalismo, Associacionismo, Gestaltismo, Psicanálise, Construtivismo, Behaviorismo...).
     Kant em “Critica da razão pura” faz severas criticas ao objeto de estudo da psicologia, culminando no seu famoso Veto, o que permite ter uma visão mais clara do que pode ter levado a essa grande difusão. A saber: o Eu, enquanto palco onde se dá todas as representações, caracterizado por sua subjetividade temporal, só pode ser dado, necessariamente, como sujeito do pensamento e, portanto só existe intelectualmente, a ele não pode ser dado predicados que só podem ser aplicados a coisas da experiência. Dessa forma o erro da psicologia racional é, através da análise do Eu, formular proposições tais como: (1) é substância, (2) é simples, (3) é idêntico, (4) está (ou não) em relação com objetos possíveis no espaço. Ora, tais proposições necessitam de provas dadas pela experiência e, relativo ao Eu, nada pode ser dado na experiência. Porque, apesar de parecer na consciência de nós próprios, numa intuição imediata, que possuímos uma substancialidade, esse conceito por nós formulado de nós mesmos permanece sem conteúdo e espaço. Ele, de fato, nada mais é que um sentimento de existência vazio e apenas representação em que se relaciona todo pensamento. Esse Eu será sempre o sujeito que conhece e nunca poderá tornar-se objeto do conhecimento, só temos consciência dele porque dele carecemos imprescindivelmente para a possibilidade da experiência. Assim, a impossibilidade de se conhecer o Eu acaba com todas as inspirações da psicologia racional. Não sendo possível uma psicologia racional, a psicologia, enquanto projeto científico, se vê em sérios embaraços. Só lhe resta a psicologia empírica, e esta, sem uma base a priori (que seria dada pela psicologia racional), estará limitada a uma simples disciplina histórica, de descrição de estados internos, não pertencendo, para Kant, ao ramo das Ciências Genuínas.
     É importante relevar o ponto de que essas psicologias distintas não possuem apenas um debate nominal, como se os diferentes objetos fossem os mesmos, mas com nominações diferentes, ou sobre pontos de vista individuais. Nesse caso seria preciso tomar o conhecimento de algo-em-si, como se existisse previamente com todas suas características e estivesse a espera de ser descoberto quando na realidade a natureza apenas aceita ou não nosso saber inventado. “Cada sistema representa pois, uma tentativa de impor sua linguagem, o seu modo de falar, de interrogar e examinar o seu suposto objeto psicológico em sua totalidade.” Então por que uma psicologia não se destaca diante das outras e clama para si o trono da legitimação? Basicamente, todas elas possuem provas empíricas, experimentais, argumentativas e de eficácia que sustentam suas ideias e não permitem serem contrariadas como invalidas já que cada sistema busca em seu próprio corpo teórico alternativas para proporcionar uma explicação. “Um exemplo típico é o recurso pela psicanálise à tese da resistência para justificar qualquer fracasso ou crítica exacerbada as suas teses.”
     Ao tentar explicar o homem, mostra-se necessário considerar a influência que é exercida nele por meio dessas novas linguagens. Tendo em vista que na era da reprodutibilidade técnica o acesso a esse tipo de informação esta ao alcance de qualquer um, ao obter popularidade ela pode acabar integrando o senso comum, como acontece com a psicanálise e seus termos de “inconsciente” e “complexo de édipo”. Decerto, saber desses instrumentos analíticos altera a forma como a prática deve ser pensada (apesar de consolida-la como verdade), pois, os atos do sujeito estão condicionados ao seu conhecimento e portanto ele passa a agir tendo em mente aquilo que a análise pretende interpretar, o que deve resultar num extremo abalo estrutural. A estratégia da psicologia para evitar a auto-produção do homem, decorrente do estudioso se confundir com o próprio objeto de estudo, pode ser pensada sobre o termo “maquina de múltiplas capturas” que consiste em três fases: “num primeiro momento, toma-se uma imagem científica (seja da física, da biologia, ou da informática) em consonância com um conjunto de práticas sociais. Num segundo momento, tal imagem, ungida pelo poder de sua inspiração científica, decalca-se sobre os sujeitos, reordenando num terceiro instante o conjunto de suas práticas, de onde ela mesmo surgiu.”. Evidencia-se assim a apropriação de ideias cunhadas por outras áreas do saber por parte da psicologia.
     Por fim, discordo do autor no ponto em que diz: “De que outra maneira as pessoas de nossa sociedade viriam a acreditar no significado dos sonhos, no ”primeiro amor edípico” ou na existência do inconsciente, senão pela transmissão e difusão da psicanálise? É por tal mecanismo que todas psicologias são eficazes.”. A meu ver, não existe necessidade das pessoas não estudiosas do campo acreditarem nas psicologias por meio de suas teorias, mas sim pelo seu resultado prático, social e experimental, pois, como abordei anteriormente, o conhecimento daquelas traria nada senão prejuízo. O conceito de aura como trabalhado por Walter Benjamin em seu famoso ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” se encaixa nesse contexto a psicologia, pois, no momento em que ela perde sua distância e unicidade, esta sujeita a tantas modificações que se tornaria impossível um desenvolvimento teórico coerente.

Um comentário:

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